A época decorre e temos a possibilidade de ver diferentes jogares, diferentes intencionalidades colectivas, diferentes intervenções e conseguimos perceber as metodologia ou os métodos que cada treinador operacionaliza, mais concretamente às preocupações que preenchem as diferentes operacionalizações e que por conseguinte levam os treinadores a estabelecer diferentes hierarquias com níveis de organização e complexidade diferentes… É importante vincar a existência de uma metodologia e de métodos… que visam preocupações e ocupações diferentes. Que visa o desenvolvimento de um jogar (sem nunca “descontemplar” ou desvalorizar seja que plano o dimensão for – sendo a Táctica o núcleo duro da “coisa”) e outras que estão mais preocupadas com picos de forma ou com o desenvolvimento separado e isolado de determinada capacidade condicional… e aqui sim faz todo o sentido falar em microciclo e mesociclo… pois não há a preocupação em distribuir ao longo do tempo uma determinada táctica, uma linguagem comum a todos os jogadores que se pretende que à Lá Long faça parte do corpo de todos os jogadores (através de uma incorporação – acto de modelação – depende da existência de uma Intenção prévia) portanto que haja uma codificação no espaço e tempo de uma Ideia de jogo… e aqui faz sentido falar do Morfociclo…
Não obstante ainda bem que há estas diferenças caso contrário não poderíamos apurar quem é o melhor e o pior, pois algo que não foi mencionado; a quantidade de títulos e a quantidade de anos consecutivos que se ganharam as provas de maior prestígio nacional e internacional, (para mim mais importante que isso foi a forma (dominadora) como se ganharam os títulos) que os treinadores em causa conquistaram ao operacionalizarem A METODOLOGIA PERIODIZAÇÃO TÁCTICA!
Desta forma irei falar um pouco do que está a acontecer, manifestando assim o meu ponto de vista suportado pela concepção de treino criada e desenvolvida pelo Professor Vítor Frade. Pior do que perder a jogar mal é jogar num vazio, sem uma intencionalidade colectiva que permita aos jogadores identificarem determinados princípios de valor comuns que lhes permita INTERagir em conformidade e actuar funcionalmente com os restantes colegas num determinado contexto. Pois podemos jogar mal mas mostrar determinada intencionalidade colectiva que permita à equipa ter uma identidade identificativa, tornando essa equipa diferente das restantes, independentemente de ser um jogar mais ou menos estético, mais ou menos variável mas o fundamental passa por ter uma matriz conceptual (ideia de jogo – intenção prévia) que guie todo o nosso processo de aprendizagem (treino), ou seja, uma matriz conceptual que juntamente com uma matriz metodológica nos irá permitir desenvolver à Lá Long o nosso jogar ideal, através da operacionalização micro, da Periodização Táctica, o Morfociclo Padrão. Passando para um plano mais prático e concreto daquilo que temos vindo a observar nos campeonatos a Top:
– Vemos equipas que simplesmente procuram potenciar o lado estratégico, procurando deste forma anular os pontes fortes e explorar os pontos fracos da equipa adversário. No entanto esta preocupação deve provocar uma anunciação no nosso jogar, pois caso contrário não estamos a potenciar aquilo que queremos que seja sentido pelos nossos jogadores, por todos e pelo todo, uma intencionalidade coletiva pois assim estarmos a mutilar as nossas relações, as nossas interacções em detrimento daquilo que é dos outros.
Esta dimensão no nosso processo só faz sentido se for contemplada no sentido de maximizar a manifestação do nosso jogar… Pois se eu tiver a bola, desde que a minha pretensão Macro seja dominar o jogo com bola, o que adianta aos outros jogar mais assim ou menos de outra maneira? Não vão jogar pois vou determinar o jogo pela imposição do meu jogar! Esta deve ser a preocupação fundamental!!
Para além de que o estar pre(ocupado) com os outros ocupa e de que maneira o consciente dos meus jogadores… desta forma vou tê-los a jogar de “travão de mão puxado”, o que é prejudicial para o meu jogar! Bem como para o desenvolvimento do meu jogar durante o processo; pois primeiramente se a minha preocupação passa por saber como jogam os outros, o treino passa a ser centrado nos outros e não no meu jogar. Segundo o jogar sistematicamente em função dos outros que de competição em competição é diferente (e aqui entra a problemática da distância entre competições e tempo necessariamente imperativo e categórico para recuperar de maneira a desempenhar colectivamente em máximo rendimento determinada intenção) vou estar constantemente a mudar, o que provoca um desgaste a todos os níveis mas fundamentalmente a nível emocional e há que contemplar “micro rupturas cerebrais e por conseguinte musculares”).
Os treinadores que lideram equipas desta maneira são equipas vazias e pobres, reagindo (jogam o jogo avulso, treinando-o por pacotes – não havendo assim um respeito pela sua natureza inquebrantável) – ao insucesso através de impulsos e assentes no crer, na vontade e no acreditar sem uma sustentação conceptual à priori e em acto…pois não existe!
São equipas que enquanto a memorização daquilo que foi passado dos outros dura vão ajustando sistematicamente ao adversário e quando é necessário reagir à desvantagem (fruto de algo inesperado e não experienciado anteriormente), os jogadores perdem-se, não existindo quaisquer referências Macro pertencentes a uma Intencionalidade Colectiva e por conseguinte não há ajustamento funcional colectivo a um jogar como suporte para responder às dificuldades impostas pelo jogo e pelo adversário sendo esta incapacidade mostrada de forma vincada pelas ralações ou melhor pela inexistência de relações entre os jogadores não havendo assim INTERação entre os mesmos, suportada por uma Intencionalidade Colectiva, vivida, sumarizada e partilhada por todos, agravada pelo cansaço notório resultante de se jogar em função dos outros!
Pois a operacionalização de um jogar de qualidade, onde existe uma ideia prévia contempla a adaptação a determinado tipo de esforço ou seja a uma dominância metabólica, que nos vai permitir intervir no e com o jogo sob determinada forma. Sendo esta forma maximizada na sua manifestação em função das condições criadas em contexto de treino para os jogadores jogarem em máximo rendimento (binómio desempenho – recuperação).
– Depois temos equipas que apresentam, na cabeça daqueles que vêm o futebol de forma crua e nua, automatismos mecânicos! Em que mais uma vez o jogo é treinado por partes, por pacotes.
Independentemente da oposição, da forma como a outra equipa está disposta no campo, jogamos assim porque treinamos a jogada Y e Z desta maneira. Ou seja, não há um critério Colectivo que irá fazer com
que exista um critério individual. Portanto, para a “coisa” maior ser manifestada há que haver o reconhecimento de critério macro – resultante da vivenciação e experienciação de uma Intenção prévia, Ideia de jogo, e assim na circunstância, em função do aqui e agora, o jogador intervém sobre o jogo suportado pelo critério individual que é iluminado por um critério colectivo ou seja na circunstância intervimos de forma a que a Forma se manifeste…
No entanto ainda bem que existem jogadores criativos que não corroboram no cumprimento da totalidade dos comportamentos impostos pelos treinadores que tornam o jogo mais imprevisível e
variável (rico), variando o seu registo e por conseguinte o registo do jogo. Ou seja é a concomitância entre a variabilidade e redundância; maximização da variabilidade dentro de uma redundância.
Desta forma cabe ao treinador ter sensibilidade para dar graus de liberdade aos jogadores em função daquilo que pretende para a equipa enquanto o seu jogar e daquilo que pode potenciar do potencial de cada jogador. Por exemplo toda a gente sabia que o Barça de Guardiola jogava em passe e exacerbava a posse para fazer golo, no entanto a forma como o fazia era inesperada…passes com parte de dentro do pé, parte fora, por cima, por baixo, a meia altura, por cima, de calcanhar, passe por dentro, por fora, para trás, para a frente, havia simulação, engano, finta, drible para atrair, para atacar espaço… mesmo o Bayern do treinador que serve de exemplo manteve a sua matriz conceptual no entanto contempla o passe comprido, contempla o passe para a área que muitos chamam de cruzamento (mas não!) de forma a potenciar a cultura existente no clube e nos jogadores.
Já no City e de acordo com o titulo, aponta-nos para uma mudança mas não para uma modelação (que é o pretendido no processo de treino – respeitar a cultura dos jogadores, do clube, do país, mas acrescentar a linha orientadora do nosso processo – Ideia de jogo). Pois não vemos a largura que era caracterizante nas equipas de Pep Guardiola. Largura esta imprescindível e imperativa para se ter a profundidade desejada (em função da forma como queremos chegar à baliza).
Os princípios de valor são tanto mais ricos quanto mais variáveis variabilidade) forem na sua concretização não obstante o principio é sempre o mesmo, ou seja, não perde a sua concepção, não é mutilado por ser concretizado através de diferentes formas mas que respeitam uma Forma maior! No entanto o treino tem de promover este lado “aberto” e deve contemplá-lo! Portanto o jogador deve INTERagir livremente sem que contribua para a desconfiguração da identidade identificativa da equipa e nesse sentido o treinador deverá ter sensibilidade para saber até onde pode e deve dar graus de liberdade… como? Treinando a jogar… havendo respeito pela natureza inquebrantável do jogo!
– Agora fala-se muito e todas as equipas querem ter uma reacção forte à perda e que para tal acontecer os jogadores têm de estar bem fisicamente! Ok… mas primeiramente os jogadores têm de estar identificados com algo maior que os permita estar ligados e a interagir em cada circunstância de jogo que lhes permita ter tal princípio de valor. Há momentos em que não podemos ganhar a bola no imediato mas sim criar condições para ganhar imediatamente a seguir. Isto não é teoria, a equipa tem de agir em função do reconhecimento da circunstância e intervir em função de um critério macro e por conseguinte individual. E isto treina-se jogando… não no ginásio a “ganhar músculo” para as transições após perda serem fantásticas… para além de que é fundamental uma equipa estar predisposta para concretizar tal, seja num plano/dimensão mais táctico (fundamental) ou fisi(ólogi)co… Vejamos:
– Só uma equipa que joga preferencialmente próxima e que privilegia um jogo posicional e funcional apoiado poderá procurar ganhar a bola após a sua perda;
– Com os jogadores afastados entre si e regularmente a procurar jogar em profundidade ou com passes compridos, exigindo maior mobilidade e aproximações mais rápidas e constantes por parte dos jogadores, causando desta forma maior desgaste;
– Se uma equipa pretende ganhar a bola após a sua perda é sintoma de que a quer ter em seu poder e não “despachá-la” para o adversário…ou seja a intenção macro da equipa quando está a defender deve passar por defender para atacar, defender para ficar com a bola!
– Se não houver reconhecimento por parte de todos (colectivo) que é para ganhar após perda da posse de bola, por mais força que os jogadores possam ter eles não se vão movimentar em função desse principio na transição…há uma necessidade categórica imperativa de vivermos os princípios para reconhecermos a sua necessidade e a sua concretização!
Ou seja é imperativo que haja UMA articulação dos princípios de jogo em função da minha Ideia maior. Só assim os posso articular para que a pretensão Macro possa emergir e assim se manifestar!
Agora esta articulação deve ter um Sentido sentido por todos os jogadores… de maneira a podermos jogar nUM tempo só! Isto treina-se jogando…
– O treinar mais não significa que iremos jogar mais (melhor) nem que treinando menos iremos estar frescos para jogar melhor, não obstante temos de contemplar de forma categórica imperativa o binómio recuperação/desempenho, sendo assim necessário ao longo do processo respeitar uma alternância naquilo que fazemos sem que esta nos faça perder Especificidade, isto é não podemos treinar a jogar sempre nas mesmas condições (espaço, tempo, numero), mas quando treinámos partes do nosso jogar (sem nunca se perder o TODO!! – tem de estar sempre presente) estas tem de ser realizadas em especificidade, caso contrário passam simplesmente a partes, a pacotes! Portanto o nosso TODO, o Macro da matriz conceptual tem de estar presente independentemente do dia em que estamos a treinar! No entanto assistimos cada vez mais a intervenções parcelares desligadas do todo. As preocupações dos treinadores passam cada vez mais por “trabalhar” as ligações entre o lateral esquerdo, o interior esquerdo e extremo esquerdo, enquanto o lado direito está a filmar e à espera que o treinador diga: “ Ok, agora vamos fazer do lado direito!”, e o lado esquerdo fica a ver os outros a fazer…e o que é que acontece no jogo; dessincronização colectiva!
Os treinadores deverão preocupar-se em fazer com que os (Todos) seus jogadores percebam a forma como queremos atacar e como queremos defender. A forma como os jogadores se posicionam em campo tem de ser em função daquilo que está a acontecer (critério individual) e suportado pela Intencionalidade Macro da equipa (critério macro)…para isso temos de treinar a jogar, contemplando os diferentes níveis de organização do jogar da equipa sempre ligados à escala Macro da equipa, pois a ocupação do espaço tem de ser feita em função de um Sentido sentido por todos os jogadores.
A fratalidade do treino não passa por partir o nosso TODO se não deixa de ser todo e passa a ser uma parte isolada de outra coisa qualquer! Devemos exacerbar as relações entre o meio campo e a defesa, a defesa e ataque, a relação dos jogadores do sector defensivo, etc, mas sempre com a Intencionalidade colectiva presente independentemente do dia em que estamos a treinar! Só assim treinamos em especificidade e treinamos a jogar sustentados pelo nosso jogar e no desenvolvimento do mesmo, que pretendemos que seja manifestado e concretizado regularmente por Todos e pelo TODO! Não confundamos a Periodização Táctica com jogos reduzidos pois não se trata nada disso…
Agora para que haja a regularidade e esta expressão regular de determinada Intencionalidade colectiva é preciso que o treino seja projetado para a construção de um jogar, em que a pretensão do jogar será o alicerce de todo o processo de treino. Por outro lado não basta jogar sempre da mesma maneira ao longo do processo que se faz fazendo ao longo do tempo, sendo para isso necessário que os jogadores estejam familiarizados a determinado tipo de esforço e à necessidade do próprio jogar. Para tal acontecer é necessário respeitar categoricamente o principio metodológico da alternância horizontal em especificidade, que permitirá somatizar diferentes níveis de organização da nossa Intencionalidade Macro de forma individualizante, exacerbando as prioridades do momento (do aqui e agora) alicerçado ao pretendido como jogar ideal através do principio das propensões e onde em função do nosso aqui e agora procuramos desenvolver o nosso jogar através da progressão complexa não linear…respeitando sempre o principio conceptual da Supra Especificidade, através do Morfociclo padrão!
Não esquecer que um corpo só adquire se estiver em condições para… ou seja, temos de contemplar que o corpo do jogador necessita de recuperar para poder treinar e assim novamente voltar a haver fadiga para haver aquisição. Portanto é imperativo recuperar o corpo, sempre em especificidade contemplando o espaço e tempo entre competições, de forma a que o corpo regenera e assim esteja novamente predisposto para adquirir… O Morfociclo padrão permite-nos contemplar e operacionalizar estas preocupações bem como e assim outro binómio: aquisição individual/colectiva! Pois o corpo só está apto para jogar/treinar em máximo rendimento após quatro dias da competição anterior, ou seja para desempenhar em máximo rendimento a pretensão macro! Pois o corpo do jogador não está sempre em condições de treinar sob os referenciais Macro…mas estes nunca se perdem mesmo quando treinamos mais sobre a linha defensiva (por exemplo) mas a preocupação em termos de densidade (a do Morfociclo), do máximo relativo é também ele individual!
A Periodização Táctica não nos deixa cair na tentação da lógica de recarregar baterias ou carregar tempo e condições de exercitação… há uma lógica que é cumprida ao longo de 9/10 meses, que contempla e respeita três binómios:
Recuperação/desempenho;
Aquisição Individual/colectiva;
Métodos/Metodologia.
Bons treinos!!
Texto:
Prof. Sérgio Ferreira