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A nossa missão, a dos treinadores, na formação passa por desenvolver o potencial de cada um dentro de uma ideia coletiva ou seja temos de fazer com que cada jogador “cresça” (não em tamanho – para isso vai para o ginásio mas corre o risco de mingar!), evolua, desenvolva o seu potencial em aberto dentro de UMA ideia de jogo coletiva que toda a equipa identifique, partilhe, fale através da interação com o TODO, no TODO, entre todos os jogadores e treinador fundamentalmente no jogo e com o jogo.

Desta forma, primeiramente temos de identificar o potencial de cada jogador… o potencial de cada um e o potencial de cada um e não de todos! E todos os jogadores têm! Seja ele mais ou menos estético mas a verdade e que todos têm. Temos é de o identificar…

Após identificarmos, temos de criar contextos para que este se desenvolva, mas que, ao mesmo tempo, possa ser modelado (ato de modelação) em função de “Algo” Maior – a nossa Ideia de Jogoque é o que nos permite no tempo e no espaço termos uma identidade identificativa, portanto, ganhar, empatar ou perder de determinada maneira, e isto é o fundamental, o núcleo duro do processo… e o que devemos ter em conta no processo de aprendizagem.

Com o processo de aprendizagem, quero dizer que através da interação dos princípios metodológicos que a Periodização Tática contempla (e a única conceção que os contempla) orientámos o jogador para esta potenciação e modelação… lado praxiológico da “coisa” e só acontece na praxiologia independentemente de “somatizarmos” mais ou menos, pois a somatização também se dá e também se configura na configuração da “coisa”, configuração maior ou menor!

Passemos para casos mais concretos sem ser receitas… pois cada processo é um processo, sendo que a natureza de cada “problema” é diferente e, desta forma, a solução e o engendramento da mesma, é também ela diferente (específica e em Especificidade)… logicamente, em função da Ideia de Jogo de cada treinador, do Jogar que cada treinador pretende desenvolver!

Então, há uns anos atrás, numa equipa de escolas, apanhei um miúdo que queria ser guarda-redes e, realmente, o potencial dele a baliza não era lá muito grande. No entanto, tinha vontade e de minha parte passava por lhe dar muito jogo e dar-lhe também as vivências mais “primitivas” de ser guarda-redes. Muitos remates, muitas bolas por cima, diferentes balizas (tamanho, posição, lado do golo, etc.). Mas o grande “problema” é que só dava “chutão” para a frente, ou seja, só queria pôr a bola na frente, bem longe da nossa baliza.

O início da nossa equipa não era mau, pois estava a competir numa série de sub-10 com jogadores sub-9. Parece que não, mas um ano nestas idades faz toda a diferença. Desta forma, este potencial dele até me dava jeito, pois permitia que a equipa fosse saindo de perto da nossa baliza e ficássemos mais vezes do outro lado do campo, permitindo a equipa de forma inconsciente ganhar a intenção de aproximar junta, compacta, para a frente, em função de um estímulo. No entanto, o que eu queria era que saíssemos a jogar (não confundir sair a jogar com jogar, pois se a vantagem espacial esta “lá”, então joguemos para lá) curto de preferência, mas com critério de reconhecer onde estava a equipa adversária, de maneira a tirarmos vantagem do sair a jogar (que não se condiciona a jogar curto!! Também pode ser longo!!). O que eu fiz num primeiro momento por exagero, foi no jogo grande (7×7) tirar-lhe jogadores da frente e colocar mais jogadores atrás, com o intuito de que o guarda-redes identificasse onde tinha mais jogadores disponíveis para dar seguimento, para começarmos a jogar e ficar com a bola em nosso poder e assim podermos ter bola para marcar golo. Nos jogos mais reduzidos, jogava sempre com os colegas e, tendo em conta o espaço do campo e a configuração do exercício (passar com bola controlada), também fui modelando o “chutão” para a frente. Logicamente que, quando concretizava as suas intenções ligadas a nossa Intencionalidade Macro, somatizava e reforçava positivamente o que tinha feito, bem como, quando marcava golos através da bola controlada, ia percebendo o mais ajustado para o aqui e agora do jogo. Não formei um grande guarda-redes, mas formei um guarda-redes… sem falar na bola tapada ou destapada, capaz de intervir no jogo com os colegas através de organização coletiva.

Tivemos um miúdo que fintava muito e realmente era muito bom nisso…Ok, deixemos que ele continue a ser fantástico nisso! No entanto, temos que ir modelando e mostrar que nem sempre pode fintar e para que serve a finta, também dentro de uma ideia onde o padrão técnico dominante pode ser outro (tecnicidade: técnica em função de uma Especificidade), não querendo com isto dizer que descarte o engano, simulação, finta, etc. Pois um Jogar rico passa por manifestar variabilidade na concretização das intencionalidades manifestadas (ou seja maximização da redundância), “presa” a uma intencionalidade macro! Mas o que podemos fazer para modelar o jogador? Mudar não!!

Colocá-lo em posições diferentes para sentir que é diferente jogar perto da baliza adversária ou da nossa baliza. No entanto, nunca descartar que é possível “jogar bem”; enganar, fintar, simular por todo o campo, mas com critério – ajustar ao aqui e agora do jogo em função da nossa Intencionalidade Macro. Lembro que o tempo é superior ao espaço. ou seja, uma simulação permite-nos ganhar tempo e, por conseguinte, espaço!

Podemos montar uma estrutura adversária que o obrigue a ter que passar mais vezes do que fintar ou que tenha até algum insucesso na finta, no drible… e aqui temos de ter a divina proporção (uns têm, outros não!) para que consigamos intervir no momento exato e, assim, não perder o timing (exatidão – a velocidade das velocidades!) para somatizar ou fazer somatizar o que queremos e que queremos menos… Como fazemos isto? Dando o contexto e não a solução. Isto leva ao reconhecimento do jogo por parte do jogador, o tal ganho de critério que é fundamental e indispensável para a existência do princípio de valor!

Então, cabe-nos a nós configurar o treino para potenciarmos o potencial de cada um e, quando este for ajustado e congruente com o que pretendemos em termos de identidade identificativa, devemos somatizar mesmo que estejamos num momento de maior modelação do que potenciação… pois o treino vive de investimentos momentâneos sem perda da escala Maior, independentemente do dia, do contexto de exercitação, do tempo, do espaço, do número de jogadores… Mas relembro que, para haver investimento, tem de haver prioridades que resultam da comparação e balanço entre o jogo Real e Utópico!

Enquanto modelámos, estamos a potenciar, pois não a estamos a mudar, mas sim a modelar o jogador em função de Uma Ideia Maior que nos suporta, orienta e nos permite intervir em função do que está a acontecer, em função dos meus colegas… ou seja, permite-nos manifestar ou reconhecer exatamente a mesma coisa, exatamente ao mesmo tempo! Jogar num tempo só… mas onde a variabilidade da concretização das intencionalidades é contemplada, levando assim a uma maximização da redundância!

Portanto, cada contexto é um contexto, exatamente o que se passa com cada Realidade e realidades. Desta forma, devemos partir do que temos para o que queremos… Como? Através da modelação, o tal modelo de jogo que comporta Tudo e é tudo e que é infindável… Estamos constantemente atrás dele no lado mais praxiológico da “coisa”…

Como operacionalizámos tudo isto? Jogando muito tempo, muitas vezes, o jogo suportado por uma Intencionalidade de qualidade! Jogo… Jogo… Jogo… em diferentes escalas, sem perda da escala maior!

Redigido por: Prof. Sérgio Ferreira, treinador da equipa de Iniciados e Juniores do FC Foz

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